segunda-feira, 31 de outubro de 2011

agamben +1


 Lendo Andreas Huyssen, lembrei muito do Agamben. Continuei a pensar sobre tempo e maneiras de se relacionar com a(s) história(s), debruçando- me ainda sobre a ideia de contemporâneo/vanguarda e os trilhos pelos quais percorrem esses trens, tanto os a vapor, quanto os balas.


Trabalha-se com a desestabilização de oposições alto/baixo, mas uma certa exclusividade pertencente ao alto não se dissipa. Baixo também é exclusivo. Tudo pode ser exclusivo e o que se entende por movimento massivo é a presença.
“perpetuar a velha e gasta estratégia de exclusão é, em si, um sinal daquela ansiedade contra contaminação.”(p.8)

-Primeiro, não chegaremos ao estado de presença com ansiedade, mas sim com fé cega no mistério;
-Segundo, contaminar-se é pressuposto.

“fazer distinções qualitativas é uma tarefa importante para a crítica; eu não concordo com esse pluralismo irrefletido para o qual qualquer coisa presta. Mas reduzi toda crítica cultural ao problema da qualidade é sintoma daquela ansiedade contra a contaminação.” (p.10)

O medo da contaminação soa até como besteira-cega, pois olhem as africas, américas, asias... Olhem o surrealismo que busca objetos das culturas ditas primitivas colocando-os, nos anos 20 do XX, em museus franceses de forma descontextualizada.

[A quem pertence o futuro? ]

“A memória humana pode, sim, ser um dado antropológico, e, intimamente ligada como é às memórias como uma cultura constrói e vive sua temporalidade, as formas que ela tomará são invariavelmente contingentes e sujeitas à mudança”(p.14)

Sim, vivemos impulsos contraditórios, de um ponto a única história enfraquecendo-se devido as narrativas insurgentes e de outro os sistemas de informação globais. Mas a ideia de que pontos são lados ainda pode causar angústia nos pensamentos sistêmicos-dicotômicos.

Drama individual: o problema(do que, meu povo?) é que muitas vezes precisamos lidar com o fato de termos história demais com os postulados individualistas de sujeito. O sujeito uno, tijolo-só, quadrado, que se empilha no grande muro chamado mundo. Lembro quando Fucô fala da ephisteme moderna, que torna o sujeito finalidade e meio de toda forma de conhecimento. #chega

O tempo é relativo, sujeito a múltiplas e diferentes formas de apreensão, o ritmo acelerado das informações recebidas o torna rápido, ao passo, que lhe acumula muitas memórias....talvez um mash-up da página 17 ajude a afinar melhor o sentido de que empreguei nessas palavras:

“há de se supor que a cultura capitalista, com seu ritmo continuamente frenético, sua política televisiva de rápido esquecimento, e sua dissolução do espaço público em canais cada vez mais numerosos de entretenimento instantâneo, é inerentemente amnésica.(...)(...) observação de que(...)nossa cultura é obcecada pela questão da memória.(...)pensar a memória e a amnésia juntas em vez de simplesmente opô-las”(p.17)

Assim, a memória funcionaria como “uma forma reativa contra os acelerados processos técnicos” e, tchan, tchan, ela representa “a tentativa de diminuir o ritmo de processamento de informações, de resistir à dissolução do ritmo do processamento de informações, de resistir à dissolução do tempo na sincronicidade do arquivo, de descobrir um modo de contemplação fora do universo de simulação, da informação rápida e das redes de TV a cabo, de afirmar algum “espaço_âncora” num mundo de desnorteante e muitas vezes ameaçadora heterogeneidade, não-sincronicidade e sobrecarga de informações”(p.18)

Richard Schechner: “o que é performance? -execução/ desempenho/ façanha/ proeza/ representação/ função espetáculo/ atuação/ capacidade de realizar trabalho/ rendimento.”

“Frequentemente, esta moderna estrutura de temporalidade, de viver e experimentar o tempo, tem sido criticada como enganadora ou perigosa, especialmente na tradição do anti-capitalismo romântico e dos críticos do Iluminismo.”(p.19)

“Portanto, nós não estamos apenas experimentando outro surto de pessimismo e crítica ao progresso, mas vivendo a transformação da estrutura de temporalidade moderna em si.”(p.19)

“Nesta visão distópica de um futuro high-tech, a amnésia não seria mais parte da dialética entre memória e esquecimento. Ela seria seu outro radical, decretando o verdadeiro esquecimento da própria memória: nada para lembrar, nada para esquecer”(p. 20)

drama cênico individual: se a memória é a matéria-prima dos nossos estados de presença, reverência a ela, que única, que singular, que una em sua fragmentação..



Fichamento livre da Introdução do livro Memórias do Modernismo, de Andreas Huyssen, Editora UFRJ, 1997.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Uma sábia feiticeira, alquimista e, claro professora (que não faz idéia de que lhe atribuo essas duas primeiras alcunhas) ao tecer comentários sobre “O que é o Contemporâneo?” (Agamben) disse que ser contemporâneo é : ser pontual num compromisso que se pode apenas faltar.

Abençoados os lúcidos e os contemporâneos. Os contemporâneos são raros disse ela. Porque quando nos deparamos com essa pergunta temos que nos confrontar com o tempo e com a história. É sobre uma concepção de tempo e uma concepção de história que Agamben estaria falando. Temos de nos perguntar: o que é o tempo? O quê é o presente?

Pensar em contemporaneidade como sendo o pertencimento a uma época é muito pouco. Ser contemporâneo seria ter uma relação especial e singular com o tempo. É uma experiência especial no sentido de ser específica. É uma relação paradoxal: ao mesmo tempo que se está nele (no tempo, no seu tempo), logo que não se pode fugir dele, ao mesmo tempo toma-se uma distância dele. É escolher um ponto de vista anacrônico. É aderir ao tempo por meio de uma distância e escolher um ponto de vista anacrônico. O contemporâneo é o intempestivo, é aquilo que subitamente, inesperadamente, está se colocando fora de uma continuidade temporal e por isso pode olhar o seu próprio tempo. É aquilo/aquele que esta no seu tempo e contra o seu tempo. É saber ver não o que está claro, as luzes, mas a obscuridade. Isto é, perceber o escuro do seu tempo. É pensar como diz Agamben que o escuro é a luz que vem para nós mas não consegue nos alcançar. (As galáxias estão em expansão.) Os raros contemporâneos são aqueles que são capazes de perceber o que está se afastando de nós, aquilo que declina, aquilo que de longe emite luz. O interessante é ver que a luz se endereça a nós mas não consegue nos alcançar. Então que concepção de tempo estamos tendo quando fazemos a pergunta O que é o contemporâneo? É dessa singular relação com o tempo que se fala, de uma dissociação, de um anacronismo. Porque “aqui” há vários aquis. E “agora” há vários agoras. Pois o que é próprio de um tempo é o modo como este se relaciona com o tempo. O tempo não é uma ilusão. É uma experiência.

Casa relâmpago, tentando emitir esses pequenos fragmentos das luzes que nos são endereçadas.

Sê pontual, mesmo que essas luzes não venham nos alcançar.

domingo, 16 de outubro de 2011

Post da Galeria Pirata Arts

Consideramos a arte como uma das formas de consciência social. Segundo Ernst Fischer (” A Necessidade da Arte“)… “a função essencial da arte para uma classe destinada a transformar o mundo não é a de fazer mágica e sim a de esclarecer e incitar à ação; mas é igualmente verdade que um resíduo mágico na arte não pode ser inteiramente eliminado, de vez que sem este resíduo provindo de sua natureza original a arte deixa de ser arte. “A mesma dualidade – de um lado, a absorção na realidade e, de outro, a excitação de controlá-la – não se evidencia no próprio modo de trabalhar do artista? Não nos devemos enganar quanto a isso: o trabalho para um artista é um processo altamente consciente e racional, um processo ao fim do qual resulta a obra de arte como realidade dominada, e não – de modo algum – um estado de inspiração embriagante.

domingo, 9 de outubro de 2011

Resumo do Grupo dia 1/9/11

Palavras-chave: performance, público, intervenção, desconstrução,
libertário.
Galera, eu sei q meu resumo pode ta confuso, mas as dúvidas surgindo,
conversamos e o importante é discutir os seguintes pontos:
1) A recepção do público e sua recepção sensória-cognitiva.
2) A relação entre o cognitivo e o racional.
3) A diferença entre intervenção e performance.
4) A linguagem híbrida q a performance tem entre teatro e as artes
plásticas.
5) Qual é a essência da performance.

Estudamos o prefácio, introdução e o primeiro capítulo. O autor dá uma
noção da história da performance, colocando suas diferenças, em termos
conceituais e práticos. Primeiramente ele se refere a performance como
uma anti-arte : não se vincula a meios institucionais e é contra ao
que é estabelecido (óbvio, que isso pode ser discutido).
Uma pergunta surge: o público tem que existir no tempo total da
performance?
O autor parte do teatro para explicar a performance, por ter maior
aproximação com a vida, mas também pontua a performance como tendo
origem nas artes plásticas, no sentido que a performance adquiri no
seu caráter um improviso (mesmo que guiado), herdado dos happenings e
também da action painting (pollock).
Portanto, na história da performance, pelo menos em termos de
conceituação, podemos analisar a performance como uma interseção entre
o teatro e as artes plásticas. Tendo uma linguagem híbrida que mistura
as origens tanto dos rituais indígenas, quanto das bacantes na Grécia
antiga (que deram origem ao teatro). Claro, indo depois muito além das
suas próprias origens.
Surge uma pergunta: existe performance politizada? A questão da
tecnologia separa a performance em épocas? Quem vai ter acesso a essa
tecnologia se institucionaliza?
O autor estabelece um vínculo entre performance e teatro, sugerindo
inclusive o teatro e seu duplo do artaud como leitura,teatro
surrealista, também o teatro dialético do Brecht – o teatro dialético
pretende fazer um conjunto entre o que ele chama de atitude (gesto
“humano”) e o gesto físico – entre outros teatros, no Brasil com o
teatro oficina, antropofagia, etc.
O teatro representa a vida. A performance não representa a vida.
(Tenta) se aproximar do real (live-art), propõe uma dessacralização da
arte, onde se têm rituais, que não querem representar a vida, até
porque questiona o que é real. Coloca uma situação do cotidiano num
momento de fruição.
A partir disso, quando se coloca um momento do cotidiano, questiona-se
a relação espaço-tempo que o artista trabalha. Pergunta-se: como se
faz essa relação espaço-tempo com a performance? O exemplo do Santiago
Cao que ficou oito horas de carga horária de trabalho dentro de uma
rede. Assim o performer também tem de ter certo preparo físico.
O autor coloca em evidência a diferença entre performance e
intervenção.
Pergunto: pra vcs, o que é intervenção?
Qual é a diferença entre intervenção e performance?
-//-
Usando como exemplo, a performance Multiplex Code, do artista
Schechner [parenteses: achei um filme que esse cara fez com o Brian de
palma, em 69, chamado dionysus, risos]
“O multiplex code é o resultado de uma emissão multimídica (drama,
vídeo, sons, imagens, etc), que provoca no espectador uma recepção que
é muito mais cognitivo-sensória do que racional. Nesse sentido,
qualquer descrição de performance, fica muito mais distante da
sensação de assisti-las, reportando-se, geralmente, essa descrição ao
relato dos ‘fatos’ acontecidos.” Pág. 30.
Quando o autor faz esta afirmação, quebra-se na história da arte a
tradição cartesiana, de que o homem tem a capacidade de entender tudo.
De fato, o que se pretende é um outro entendimento, um entendimento
sensório, em vez da simples produção em cadeia de pensamentos e
conceitos.
Chega-se a pergunta, então, qual é a essência da performance?
Será a linha tênue entre vida e arte?
A performance, ou sua essência, é orgânica?
A performance trabalha as questões existenciais básicas, como também
não tem uma ideologia engajada, ou seja, não é panfletária, nem possui
vínculo com a mídia (não é entretenimento) e a sua expectativa de
público não deve ter a importância de uma novela. Isso pode ser
discutido inclusive.
BIBLIOGRAFIA
http://www.ubu.com/film/depalma_dionysus.html - filme do schechner com
o Brian de palma chamado dionysus.
http://www.ubu.com/- esse site tem muita coisa de performance e arte.
Muita mesmo. Vale a pena.