Lendo Andreas Huyssen,
lembrei muito do Agamben. Continuei a pensar sobre tempo e maneiras
de se relacionar com a(s) história(s), debruçando- me ainda sobre a
ideia de contemporâneo/vanguarda e os trilhos pelos quais percorrem
esses trens, tanto os a vapor, quanto os balas.
Trabalha-se com a
desestabilização de oposições alto/baixo, mas uma certa
exclusividade pertencente ao alto não se dissipa. Baixo também é
exclusivo. Tudo pode ser exclusivo e o que se entende por movimento
massivo é a presença.
“perpetuar a velha e
gasta estratégia de exclusão é, em si, um sinal daquela ansiedade
contra contaminação.”(p.8)
-Primeiro, não
chegaremos ao estado de presença com ansiedade, mas sim com fé cega
no mistério;
-Segundo, contaminar-se
é pressuposto.
“fazer distinções
qualitativas é uma tarefa importante para a crítica; eu não
concordo com esse pluralismo irrefletido para o qual qualquer coisa
presta. Mas reduzi toda crítica cultural ao problema da qualidade é
sintoma daquela ansiedade contra a contaminação.” (p.10)
O medo da contaminação
soa até como besteira-cega, pois olhem as africas, américas,
asias... Olhem o surrealismo que busca objetos das culturas ditas
primitivas colocando-os, nos anos 20 do XX, em museus franceses de
forma descontextualizada.
[A quem pertence o
futuro? ]
“A memória humana
pode, sim, ser um dado antropológico, e, intimamente ligada como é
às memórias como uma cultura constrói e vive sua temporalidade, as
formas que ela tomará são invariavelmente contingentes e sujeitas à
mudança”(p.14)
Sim, vivemos impulsos
contraditórios, de um ponto a única história enfraquecendo-se
devido as narrativas insurgentes e de outro os sistemas de informação
globais. Mas a ideia de que pontos são lados ainda pode causar
angústia nos pensamentos sistêmicos-dicotômicos.
Drama individual: o
problema(do que, meu povo?) é que muitas vezes precisamos lidar com
o fato de termos história demais com os postulados individualistas
de sujeito. O sujeito uno, tijolo-só, quadrado, que se empilha no
grande muro chamado mundo. Lembro quando Fucô fala da ephisteme
moderna, que torna o sujeito finalidade e meio de toda forma de
conhecimento. #chega
O tempo é relativo,
sujeito a múltiplas e diferentes formas de apreensão, o ritmo
acelerado das informações recebidas o torna rápido, ao passo, que
lhe acumula muitas memórias....talvez um mash-up da página 17 ajude
a afinar melhor o sentido de que empreguei nessas palavras:
“há de se supor que
a cultura capitalista, com seu ritmo continuamente frenético, sua
política televisiva de rápido esquecimento, e sua dissolução do
espaço público em canais cada vez mais numerosos de entretenimento
instantâneo, é inerentemente amnésica.(...)(...) observação de
que(...)nossa cultura é obcecada pela questão da
memória.(...)pensar a memória e a amnésia juntas em vez de
simplesmente opô-las”(p.17)
Assim, a memória
funcionaria como “uma forma reativa contra os acelerados processos
técnicos” e, tchan, tchan, ela representa “a tentativa de
diminuir o ritmo de processamento de informações, de resistir à
dissolução do ritmo do processamento de informações, de resistir
à dissolução do tempo na sincronicidade do arquivo, de descobrir
um modo de contemplação fora do universo de simulação, da
informação rápida e das redes de TV a cabo, de afirmar algum
“espaço_âncora” num mundo de desnorteante e muitas vezes
ameaçadora heterogeneidade, não-sincronicidade e sobrecarga de
informações”(p.18)
Richard Schechner: “o
que é performance? -execução/ desempenho/ façanha/ proeza/
representação/ função espetáculo/ atuação/ capacidade de
realizar trabalho/ rendimento.”
“Frequentemente, esta
moderna estrutura de temporalidade, de viver e experimentar o tempo,
tem sido criticada como enganadora ou perigosa, especialmente na
tradição do anti-capitalismo romântico e dos críticos do
Iluminismo.”(p.19)
“Portanto, nós não
estamos apenas experimentando outro surto de pessimismo e crítica ao
progresso, mas vivendo a transformação da estrutura de
temporalidade moderna em si.”(p.19)
“Nesta visão
distópica de um futuro high-tech, a amnésia não seria mais parte
da dialética entre memória e esquecimento. Ela seria seu outro
radical, decretando o verdadeiro esquecimento da própria memória:
nada para lembrar, nada para esquecer”(p. 20)
drama cênico
individual: se a memória é a matéria-prima dos nossos estados de
presença, reverência a ela, que única, que singular, que una em
sua fragmentação..
Fichamento livre da
Introdução do livro Memórias do Modernismo, de Andreas Huyssen,
Editora UFRJ, 1997.
Nenhum comentário:
Postar um comentário