quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Uma sábia feiticeira, alquimista e, claro professora (que não faz idéia de que lhe atribuo essas duas primeiras alcunhas) ao tecer comentários sobre “O que é o Contemporâneo?” (Agamben) disse que ser contemporâneo é : ser pontual num compromisso que se pode apenas faltar.

Abençoados os lúcidos e os contemporâneos. Os contemporâneos são raros disse ela. Porque quando nos deparamos com essa pergunta temos que nos confrontar com o tempo e com a história. É sobre uma concepção de tempo e uma concepção de história que Agamben estaria falando. Temos de nos perguntar: o que é o tempo? O quê é o presente?

Pensar em contemporaneidade como sendo o pertencimento a uma época é muito pouco. Ser contemporâneo seria ter uma relação especial e singular com o tempo. É uma experiência especial no sentido de ser específica. É uma relação paradoxal: ao mesmo tempo que se está nele (no tempo, no seu tempo), logo que não se pode fugir dele, ao mesmo tempo toma-se uma distância dele. É escolher um ponto de vista anacrônico. É aderir ao tempo por meio de uma distância e escolher um ponto de vista anacrônico. O contemporâneo é o intempestivo, é aquilo que subitamente, inesperadamente, está se colocando fora de uma continuidade temporal e por isso pode olhar o seu próprio tempo. É aquilo/aquele que esta no seu tempo e contra o seu tempo. É saber ver não o que está claro, as luzes, mas a obscuridade. Isto é, perceber o escuro do seu tempo. É pensar como diz Agamben que o escuro é a luz que vem para nós mas não consegue nos alcançar. (As galáxias estão em expansão.) Os raros contemporâneos são aqueles que são capazes de perceber o que está se afastando de nós, aquilo que declina, aquilo que de longe emite luz. O interessante é ver que a luz se endereça a nós mas não consegue nos alcançar. Então que concepção de tempo estamos tendo quando fazemos a pergunta O que é o contemporâneo? É dessa singular relação com o tempo que se fala, de uma dissociação, de um anacronismo. Porque “aqui” há vários aquis. E “agora” há vários agoras. Pois o que é próprio de um tempo é o modo como este se relaciona com o tempo. O tempo não é uma ilusão. É uma experiência.

Casa relâmpago, tentando emitir esses pequenos fragmentos das luzes que nos são endereçadas.

Sê pontual, mesmo que essas luzes não venham nos alcançar.

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