sábado, 26 de novembro de 2011

Contribuição Rimbauldiana

O Relâmpago*

        O trabalho humano! é a explosão que, de vez em quando, ilumina meu abismo.
        "Nada é vaidade; ruma à ciência, e para a frente!" clama o moderno Eclesiastes, isto é, Todo mundo. E contudo os cadáveres dos mais e ociosos caem sobre o coração dos outros...Ah! depressa, mais depressa; lá embaixo, além da noite, essas recompensas futuras, eternas...escaparemos delas?
        - Que posso fazer? Conheço o trabalho; e a ciência é muito lenta. Que o coração anda a galope e a luz atroa...eu o vejo bem. É muito simples; e faz muito calor; não precisarão da minha ajuda. Tenho minha obrigação; como vários outros, eu me orgulharei em pô-lo ao lado.
         Minha vida está gasta. Vamos! finjamos, banquemos os vadios, ó piedade! E existiremos divertindo-nos, sonhando amores monstruosos, universos fantásticos, lamentando-nos e censurando as aparências do mundo, saltimbanco, mendigo, artista, bandido, - padre! No meu leito de hospital, o cheiro de incenso voltou poderosamente: guardião dos aromas sagrados, confessor, mártir...
         Reconheço, ali, a sórdida educação que recebi na infância. Depois, o quê!...Atravessar os meus vinte anos, se os outros vão atravessar os seus...
         Não! não! agora eu me revolto contra a morte! O trabalho parece demasiado leve para o meu orgulho: minha traição ao mundo seria um suplício muito curto. No derradeiro momento, eu investiria para a direita, para a esquerda...
        Então, - oh!- cara e pobre alma, a eternidade estaria perdida para nós!



* Uma Temporada no Inferno de Jean-Arthur Rimbaud

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